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SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS                        

 Dra. Cecília Finotti Nishikawa Almeida

Endocrinologista

O QUE É?

A Síndrome dos Ovários Policísticos ou SOP é uma desordem hormonal que chega a atingir 1 em cada 10 mulheres em idade reprodutiva, sendo tradicionalmente conhecida por sua associação com a infertilidade. No entanto, nos últimos anos tem sido destacada cada vez mais a relação da SOP com riscos metabólicos e cardiovasculares, evidenciando a complexidade dessa síndrome e modificando a visão antiga e simplista sobre a mesma, na qual apenas os aspectos estéticos e reprodutivos eram valorizados.

Por ser uma “síndrome”, e não uma “doença”, a SOP é caracterizada por uma ampla combinação de sinais e sintomas, que podem variar de mulher para mulher. Em geral, os distúrbios menstruais (comumente com falhas na ovulação) e a produção excessiva de andrógenos (hormônios que podem causar excesso de pêlos e acne) são as manifestações mais comuns. Além disso, como o próprio termo indica, os ovários das mulheres acometidas frequentemente apresentam aspecto policístico, ou seja, com vários pequenos cistos correspondentes a folículos pouco desenvolvidos, que dificilmente amadurecem de forma adequada, impossibilitando o processo da ovulação.

 

QUAIS SÃO AS CAUSAS?

A observação de uma maior incidência de SOP em familiares de mulheres afetadas tem sugerido uma base genética para a SOP. Além do fator genético, fatores como a obesidade e a resistência à insulina podem influenciar a apresentação da SOP, elevando a prevalência de infertilidade, irregularidades menstruais e excesso de andrógenos.

 

COMO É FEITO O DIAGNÓSTICO?

Por se tratar de uma síndrome, não é possível diagnosticar a SOP através de um único critério ou exame isolado. Em geral, o diagnóstico é suspeitado por um conjunto de achados clínicos, sendo corroborado por exames bioquímicos e ultrassonográficos.

Conforme recomendação da “European Society of Human Reproduction and Embriology” e da “American Society of Reproductive Medicine”, a SOP pode ser diagnosticada na presença de pelo menos dois dos três critérios abaixo:

  1. Disfunção ovulatória (ausência ou redução do número de ciclos ovulatórios), podendo esta estar associada ou não a irregularidades no padrão menstrual;

  2. Evidências clínicas ou laboratoriais de produção excessiva de andrógenos (presença de acne, excesso de pêlos, aumento dos níveis circulantes de testosterona, etc);

  3. Ultrassonografia evidenciando ovários aumentados (maior que 10 mL) ou policísticos (com 12 ou mais folículos de 2 a 9 mm de diâmetro).

Mesmo na presença desses fatores, é fundamental excluir outras doenças com manifestações similares antes de concluir o diagnóstico de SOP.

 

QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS RISCOS DA SOP?

As mulheres portadoras de SOP apresentam vários riscos à saúde a longo prazo, alguns decorrentes das disfunções hormonais, outros das alterações metabólicas presentes na síndrome. Entre os principais riscos, podemos citar:

- Risco aumentado de infertilidade, correspondendo a 75% dos casos de infertilidade anovulatória;

- Risco três vezes maior de abortamento;

- Risco aumentado de desenvolver câncer de endométrio e, possivelmente, câncer de mama;

- Risco 3 a 7 vezes maior de desenvolver diabete tipo 2;

- Risco aumentado para obesidade e alterações dos níveis do colesterol e do triglicérides;

- Maior susceptibilidade para aterosclerose, doença coronariana e derrame cerebral.

 

COMO TRATAR A SOP?

A SOP ainda não tem “cura”, mas muitas das condições associadas a essa síndrome podem ser tratadas e prevenidas.

Nas mulheres com sobrepeso ou obesidade, a perda de peso é um dos pilares do tratamento, sendo capaz de melhorar todos os aspectos da SOP, não apenas do ponto de vista metabólico e cardiovascular, mas também com impacto positivo na capacidade reprodutiva.

Dados de algumas pesquisas têm demonstrado que uma perda de 5 a10% do peso pode restaurar a função reprodutiva em 55 a 100% das mulheres com SOP num período de seis meses. Pode também influenciar positivamente a taxa de sucesso dos tratamentos de reprodução assistida, muitas vezes necessários para o alcance da fertilidade.

A atividade física regular e uma dieta hipocalórica também melhoram significativamente os aspectos metabólicos e reprodutivos da síndrome.

Outras abordagens terapêuticas devem ser individualizadas na dependência dos sintomas que cada mulher apresenta e dos seus objetivos. Por exemplo, as mulheres que desejam apenas normalizar a menstruação podem alcançar esse objetivo com o uso de determinados contraceptivos orais. Para as mulheres que desejam melhorar o aspecto estético, com redução dos pêlos e da acne, existem outras opções medicamentosas além dos contraceptivos orais, mas em alguns casos é necessário o tratamento cosmético (depilação, laser, eletrólise, etc). Já para as mulheres que desejam engravidar, podem ser utilizadas medicações que aumentam a fertilidade e técnicas de reprodução assistida. A escolha da opção terapêutica deve ser individualizada para cada paciente e o tratamento deve ser conduzido por uma equipe especializada e experiente em reprodução assistida, a fim de aumentar as taxas de gestações bem sucedidas e minimizar os riscos de complicações.

    

É imprescindível que a mulher com SOP seja avaliada e abordada de forma integral e individualizada, não apenas na esfera reprodutiva, mas principalmente para a prevenção e tratamento das condições associadas às doenças metabólicas e cardiovasculares.

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